segunda-feira, 23 de abril de 2007

Casa de Tormes,um Santuário a Eça de Queirós

Tormes


Em Santa Cruz do Douro, concelho de Baião, entre socalcos, vinhas generosas, (cujo suco é mundialmente conhecido), pinheiros altos e casas modernas de gosto duvidoso, deparamos com uma casa rural em granito. Chegámos a Tormes, lugar de referência da geografia queirosiana, hoje uma Casa-Museu e sede da Fundação Eça de Queirós, cujo objectivo é preservar e divulgar o legado cultural e literário do escritor, nomeadamente neste ano (de 16 de Agosto de 2000 a 16 de Agosto de 2001), em que comemoramos o centenário da sua morte.
Quando Eça aqui chegou, pela primeira vez, certamente ficou deslumbrado com a beleza natural desta terra rude, laboriosamente bordada por mãos suadas de gente enérgica. Todavia não apreciou a casa, como podemos ler numa carta que escreveu a sua mulher:
“... a casa é feia, muito feia; e à fachada mesmo pode-se aplicar, sem injustiça, a designação de hedionda. Tem um arco enorme; e, por debaixo dele, duas escadas paralelas, que são de um mau gosto incomparável.”
Eça acabava de chegar de Paris, a cidade supercivilizada, e foi essa circunstância que não lhe deve ter permitido apreciar a construção, tão característica das casas rurais das gentes abastadas do Alto Douro. O estado de degradação da casa também muito terá contribuído para isso.O seu interior deveria parecer-se muito com a descrição que dele faz Zé Fernandes, em A Cidade e as Serras.
“As salas eram enormes, duma sonoridade de casa capitular, com os grossos muros enegrecidos pelo tempo e pelo abandono, e regeladas, desoladamente nuas (...) Sob os nossos passos, aqui e além, uma tábua podre rangia e cedia.”
Foi esta casa, herdada em 1892 pela esposa do escritor, Emília de Castro, e todo o cenário envolvente que serviram de inspiração ao romance A Cidade e as Serras. Eça pernoitou nela por duas ou três ocasiões e isso bastou para que ficasse seduzido. A falta de conforto era compensada pelos deliciosos pratos confeccionados pela mulher do caseiro.
Graças aos esforços de um dos netos do escritor e da mulher, é hoje possível admirar a cadeira em couro de espaldar alto, conhecida por “cadeira de Jacinto”, a mesa do famoso almoço de favas daquela personagem, os móveis da sua casa em Neully, onde faleceu, a escrivaninha de pé alto onde, por hábito, redigia os seus escritos, bibelôs, quadros, gravuras, objectos de uso pessoal, manuscritos, diplomas, etc.

Amarante

A cidade fica situada nas margens do rio Tâmega, o que lhe confere uma beleza peculiar e deslumbrante, digna de figurar como cenário de qualquer história, fosse de mistério ou de amor. E é verdadeiramente amor, o que muitas raparigas já “encalhadas” vêm aqui procurar, fazendo promessas a S. Gonçalo, que aqui tem o seu convento e igreja, merecedores de uma espreitadela. Uma estadia mais prolongada torna obrigatória uma visita à casa do escritor Teixeira de Pascoais (1878-1952), ou ainda uma visita ao Museu para apreciar a arte de Amadeu de Sousa Cardoso. Contentemo-nos, porém, com uma réplica de um quadro seu que existe na nossa escola, feito por alunos, e colocado no pavilhão central, logo após o primeiro lance de escadas para a Biblioteca.




Quanto a Teixeira de Pascoais, o poeta da saudade, ouçamo-lo:



O Poeta

Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.

Humildes, pobres cousas, como eu sou
Dor acesa na vossa escuridade...
Sou, em futuro, o tempo que passou;
Em mim, o antigo tempo é nova idade.

Sou fraga da montanha, névoa astral,
Quimérica figura matinal,
Imagem de alma em terra modelada.

Sou o homem de si mesmo fugitivo;
Fantasma a delirar, mistério vivo,
A loucura de Deus, o sonho e o nada.


Apesar de ser considerado um poeta difícil da literatura portuguesa, é muito apreciado no estrangeiro, dado a profundidade do seu pensamento.











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