segunda-feira, 23 de abril de 2007

Cintra e os Escritores

Um jardim do paraíso terreal
que Salomão mandou aqui
a um rei de Portugal...”

Gil Vicente


Sintra é desde 1995 Património Mundial da UNESCO, distinção merecida, dado o valor excepcional, não só do centro histórico da vila, mas de toda a área circundante, desde o Parque da Pena até à Vila de Colares.De facto, quem poderá ficar indiferente à beleza desta região, um verdadeiro paraíso? Percorrer o casario da vila Velha e da Estefânia, os caminhos misteriosos e de densa vegetação que trilham a serra salpicada de palácios, igrejas e quintas senhoriais, ir até à Pena, visitar o convento dos Capuchos ou o Parque de Monserrate é entrar no paraíso, sobretudo se S. Pedro enviar lá de cima neblina que cubra tudo tenuamente como um véu.

“Cintra, amena estância,
Throno da vecejante primavera,
Quem te não ama?
Quem te não ama? Quem em teu recinto?
Uma hora de vida lhe ha corrido,
Essa hora esquecerá?”
Almeida Garrett

Se um qualquer mortal não consegue resistir à magia deste cenário, que dizer então das almas sensíveis dos homens das letras?! Sintra permanece para sempre na memória de todos aqueles que têm capacidade para sonhar, daqueles que se libertam da “lei da Morte”, projectando as suas fantasias para as páginas dos livros. E quantos livros inspirados neste mistério nos esperam?! E sempre, sempre, teimosamente, à nossa espera…





Gil Vicente e Camões


O Palácio Nacional da Vila, verdadeiro ex-libris de Sintra, tem o condão de nos levar neste sonho, até outras eras. Noutros tempos, nos seus salões, nobres e damas divertiam-se com os autos de mestre Gil Vicente, e um rei ainda moço sonhou as suas glórias ao ouvir “Os Lusíadas” pela boca do mais ilustre poeta de todos os tempos.
A beleza e a riqueza interior deste palácio mereciam a nossa visita, mas nós viemos aqui respirar os encantos naturais da serra e não os ares viciosos dos salões.

Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;

Ficava o caro Tejo e a fresca serra De Sintra,
e nela os olhos se alongavam
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E, já despois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.”
Os Lusíadas ,Canto IV




F erreira de Castro

Vamos visitar o Museu Ferreira de Castro, onde se encontra o espólio particular do escritor mais traduzido além-fromteiras. Recentemente foi exibido no cinema um filme inspirado no seu maior sucesso - “A Selva”. Emigrante no Brasil, Ferreira de Castro viveu no “inferno verde” da Amazónia e conviveu de perto com a exploração a que se sujeitavam os seringueiros. É essa dura realidade que ele descreve no seu livro, que já vai na 36 ª edição.
O cenário verdejante de Sintra inspirou grande parte da obra de F.C. Para aqui vinha hospedar-se no Hotel Netto, de cujas janelas podia apreciar a serra, e aqui escreveu grande parte da sua obra. Esse fascínio era tão grande que o seu desejo era ficar integrado de corpo e alma na natureza. De facto assim aconteceu. Os seus restos mortais repousam desde 1974 sob um banco talhado na rocha, no caminho que nos leva até ao Castelo dos Mouros.





Eça de Queirós


Eça adorava vir para aqui no Verão gozar o fresco da serra. Instalava-se na Quinta da Amizade, propriedade de Carlos Sasseti, de quem era amigo.Assim, não admira que aqui trouxesse algumas das personagens do seu romance Os Maias. Carlos, na esperança de encontrar Maria Eduarda, vai até à «velha Lawrence», o primeiro hotel a abrir as suas portas na Península Ibérica, mas sem vão. A Seteais irá depois levar o Cruges, mas a decepção será enorme, dado o estado de decadência do palácio. No entanto, a paisagem que desfruta do parapeito do terraço parece-lhe digna de um quadro de um grande pintor.



William Beckford e Lord Byron




Lord Byron, poeta inglês da primeira metade do século XIX e que influenciou os nossos românticos, considerou esta vila a mais bonita do mundo. Beckford (séc. XVIII), autor de muitos livros de viagens, foi talvez o responsável pela vinda de Byron a Sintra. Beckford instalou-se aqui no Palácio de Monserrate, redecorou-o e fez obras no jardim. Quando Byron aqui chegou já a vivenda se encontrava abandonada ao vandalismo e à pilhagem, mas não obstante o poeta considerou o Parque «o mais lindo deste reino». O Éden cantado por Byron no seu Childe Harold’s Pilgrimage fica aqui: plantas de todos os continentes, desde os fetos da Austrália, às Yucas do México e ainda os bambus do Japão, conferem a este lugar uma nota exótica, tão ao gosto do homem romântico.






Hans Christian Andersen


Este romancista dinamarquês, que tanta criança tem deleitado com as suas histórias também por aqui viajou. A Casa O’Neill, próximo da Igreja de Santa Maria, foi durante uns tempos o seu lar. Quem sabe que histórias terá aqui concebido?!O rouxinol do imperador?O soldadinho de chumbo?O rei vai nu?!

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